Tratamentos para falência ovariana prematura: como preservar a fertilidade?
Os tratamentos para falência ovariana prematura são um caminho de esperança para muitas mulheres que recebem o diagnóstico e sonham com a maternidade.
Receber a notícia da perda da função dos ovários antes dos 40 anos pode ser um momento de grande incerteza, mas é fundamental saber que existem alternativas para realizar o sonho de ter um filho.
O que é a falência ovariana prematura?
A Falência Ovariana Prematura (FOP), também conhecida como Insuficiência Ovariana Prematura (IOP), é uma condição na qual os ovários de uma mulher deixam de funcionar adequadamente antes dos 40 anos. Isso significa uma redução na produção de óvulos e do hormônio estrogênio.
Estima-se que condição afete cerca de 1% das mulheres com menos de 40 anos, fazendo com que os ovários parem de produzir óvulos muito antes do esperado e levando à infertilidade.
No entanto, é importante ressaltar que a FOP não é uma menopausa precoce. Em alguns casos, mulheres com essa condição podem ter ciclos menstruais ocasionais e até mesmo engravidar espontaneamente, embora seja raro.
Quais são os principais sinais e sintomas?
Os sintomas da falência ovariana prematura são semelhantes aos da menopausa, pois resultam da diminuição dos níveis de estrogênio. O sinal mais comum é a irregularidade ou ausência de menstruação por quatro meses ou mais.
Além dos sintomas imediatos, mulheres diagnosticadas com FOP, especialmente por causas naturais e antes dos 40 anos, podem apresentar um risco aumentado para desenvolver problemas cardiovasculares. Outros sintomas incluem:
- Ondas de calor e suores noturnos;
- Secura vaginal e desconforto durante a relação sexual;
- Diminuição do desejo sexual;
- Dificuldade de concentração e irritabilidade;
- Dificuldade para engravidar.
Como o diagnóstico é realizado?
O diagnóstico da FOP envolve uma avaliação clínica cuidadosa e exames específicos e baseia-se na presença de distúrbios menstruais e confirmação bioquímica. O médico especialista em reprodução humana irá analisar o histórico da paciente e solicitar exames de sangue para medir os níveis hormonais, principalmente o Hormônio Folículo-Estimulante (FSH).
“Normalmente, ele é feito em mulheres com menos de 40 anos por uma combinação de um período de 4 a 6 meses da falta ou da irregularidade da menstruação, e medições seriadas de FSH> 30 UI/L em duas ocasiões com intervalo de 4 semanas, mas não é sinônimo de depleção folicular ovariana com cessação irreversível e permanente de função ovariana”, explica a Dra. Carla Martins, especialista em reprodução assistida.
Vale lembrar que a identificação precoce da falência ovariana primária, principalmente quando de origem autoimune, é fundamental para aumentar as chances de preservar a fertilidade.
Uma vez feito o diagnóstico, exames mais específicos serão solicitados, dependendo de cada caso, na tentativa de elucidar a etiologia ou monitorar complicações.
A ultrassonografia pélvica, ou preferencialmente transvaginal, pode identificar a presença e determinar o volume de folículos ovarianos em cerca de 25 a 40% das pacientes. Apesar de não ter valor preditivo, pode identificar candidatas para preservação de óocitos no futuro pois a função ovariana pode flutuar e atividade folicular pode ser vista.
Além disso, as características clínicas de pacientes com IOP influenciam no prognóstico de função ovariana apesar de ser clinicamente uma condição heterogênea.
Quais são as causas da falência ovariana prematura?
Em muitos casos, a causa exata da FOP não pode ser identificada. No entanto, algumas condições estão associadas ao seu desenvolvimento. A etiologia ainda é desconhecida na maioria dos casos, sendo classificada como idiopática em 75 a 90% dos casos.
De acordo com a Dra. Carla Martins, “várias condições médicas podem prejudicar a reserva ovariana como as causas cromossômicas, genéticas, autoimunes, metabólicas, infecciosas, exposição a radioterapia/ quimioterapia e iatrogênicas”.
De modo geral, as causas podem ser divididas em algumas categorias principais:
- Causas genéticas: alterações cromossômicas, como na Síndrome de Turner, ou mutações em genes específicos podem levar à condição;
- Causas autoimunes: ocorre quando o sistema imunológico ataca por engano os próprios tecidos ovarianos, prejudicando sua função;
- Causas iatrogênicas: danos aos ovários causados por tratamentos médicos, como quimioterapia ou radioterapia pélvica, são uma causa conhecida.
Quais tratamentos viabilizam a gravidez em mulheres com FOP?
O manejo clínico deve ser abrangente, multidisciplinar e envolve suporte emocional desde o momento do diagnóstico, a abordagem da infertilidade, o tratamento hormonal e a prevenção/tratamento de doenças associadas (autoimunes) ou decorrentes da própria falta de estrogênio. A terapêutica precoce visa principalmente a manutenção da qualidade de vida e proteção óssea oferecida pela terapia hormonal.
O desejo de engravidar é uma preocupação central para mulheres com FOP. Embora a recuperação da função ovariana seja rara, a medicina reprodutiva oferece caminhos seguros e eficazes para a maternidade. No entanto, o acompanhamento especializado é crucial para definir a melhor estratégia.
FIV com óvulos doados (ovodoação)
A Fertilização In Vitro (FIV) com óvulos doados é o tratamento mais indicado e com as maiores taxas de sucesso para mulheres com falência ovariana prematura. Neste procedimento, óvulos de uma doadora anônima são fecundados em laboratório com o sêmen do parceiro ou de um doador.
O embrião resultante é então transferido para o útero da paciente, que foi previamente preparado com hormônios para receber a gestação. Em resumo, a ovodoação permite que a mulher vivencie a gravidez e o parto, construindo um laço único com seu bebê.
As taxas de implantação embrionária, gravidezes químicas e clínicas e abortamento são, normalmente, semelhante. Estudos têm demonstrado taxas de gravidez por paciente de 47 a 53% índices considerados bons para a técnica.
Não é possível predizer a probabilidade de recuperação de ovulação. Porém, não pode ser assumido que infertilidade em mulheres com IOP é permanente ou irreversível.
Quer saber mais? Então, confira no vídeo a seguir os pontos-chave sobre a ovodoação:
Congelamento de óvulos para preservação da fertilidade
Para mulheres que recebem um diagnóstico que pode levar à FOP no futuro, como antes de iniciar um tratamento oncológico (quimioterapia ou radioterapia), o congelamento de óvulos é uma alternativa valiosa. Em resumo, a técnica permite preservar os óvulos saudáveis para uma futura tentativa de gravidez.
Ainda que não seja uma opção para a maioria das mulheres já diagnosticadas com FOP, em casos muito específicos e iniciais, a avaliação de um especialista pode determinar se há alguma viabilidade.
Terapias emergentes com células-tronco
A pesquisa científica avança continuamente, trazendo novas esperanças para mulheres com FOP. Sendo assim, uma área promissora é a terapia com células-tronco, que oferece a possibilidade de restaurar a função dos ovários.
Essa abordagem inovadora busca permitir que mulheres com falência ovariana prematura possam engravidar usando seus próprios óvulos, um caminho que antes parecia inatingível. Embora ainda em fase de estudos, representa um futuro com mais opções para a maternidade.
Qual o papel do apoio emocional nesta jornada?
As etapas mais importantes após o diagnóstico de Insuficiência Ovariana Primária (IOP) espontânea são informar a paciente sobre o diagnóstico de maneira sensível e atenciosa, fornecer informações precisas e oferecer encaminhamento a recursos adequados para suporte emocional.
Receber o diagnóstico de falência ovariana prematura pode gerar sentimentos de ansiedade, frustração e luto. Por isso, o suporte psicológico é uma parte fundamental do cuidado. Ter um espaço seguro para expressar emoções ajuda a lidar com os desafios da jornada.
“Cuidar da paciente significa enxergá-la de forma completa: suas necessidades físicas, emocionais e o impacto que essa fase tem em sua vida. Cada caso exige um olhar individualizado e uma equipe multidisciplinar para oferecer o melhor caminho possível”, afirma a Dra. Carla Martins.
Na Huntington, entendemos que o cuidado vai além do tratamento médico. Por isso, oferecemos um atendimento humano e acolhedor, apoiando os nossos pacientes em todas as etapas. Contar com uma rede de apoio de familiares, amigos e profissionais de saúde faz toda a diferença para manter o bem-estar e a esperança.
Se você recebeu o diagnóstico de FOP e deseja construir sua família, saiba que existem caminhos possíveis. O primeiro passo é buscar orientação de especialistas em reprodução humana.
Agende uma consulta e vamos juntos encontrar a melhor estratégia para fazer do seu sonho, a sua vida!
REFERÊNCIAS
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