
Infertilidade feminina e problemas hormonais: como distúrbios hormonais afetam a fertilidade?
A capacidade de gerar filhos pode incluir diversos fatores: desde a saúde dos parceiros, qualidade das gametas, condições sociais, psicológicas e emocionais, hábitos, alimentação, histórico genético, entre outros. Entre essas variáveis que influenciam a fertilidade, os distúrbios hormonais costumam ser uma das principais causas de infertilidade.
Por isso, o blog da Huntington separou algumas informações úteis para que você possa aprender mais sobre este assunto tão importante. Lembre-se: este artigo não tem o objetivo de possibilitar um auto diagnóstico, mas de incentivar um autoconhecimento sobre seu próprio corpo, além de incentivar que você possa identificar tópicos importantes para conversar com seu médico de confiança.
O que é hormônio e qual sua importância para o corpo?
O hormônio é uma espécie de “mensageiro químico”, uma substância que coordena diferentes funções no corpo com o objetivo de transmitir mensagens pelo sangue para os órgãos, pele, músculos e outros tecidos. O corpo humano possui mais de 50 hormônios, com diversas funções.
O sistema endócrino é composto pelos hormônios e pelas glândulas responsáveis por sua produção e liberação. Essas substâncias desempenham papéis fundamentais na regulação de diversos processos fisiológicos essenciais, como: metabolismo, o crescimento, o desenvolvimento, a função sexual e a reprodução.
Além disso, influenciam o ciclo sono-vigília, o humor e a manutenção do equilíbrio interno do organismo (homeostase) incluindo a regulação da pressão arterial, dos níveis de glicose no sangue, da temperatura corporal e do equilíbrio de fluidos e eletrólitos.
Como explica o professor Marcio Weissheimer Lauria, da Faculdade de Medicina da UFMG: “A palavra equilíbrio é uma palavra que bem impregna nesse caso, porque a gente sabe que os nossos sistemas de homeostase, manutenção de equilíbrio do corpo, são sistema nervoso e sistema endócrino”.
O professor destaca que, diante de qualquer disfunção, o corpo utiliza os hormônios como mecanismo de adaptação à nova realidade, ou seja, “Se você tem uma glândula ou algum órgão que produz hormônio e não está funcionando adequadamente, isso talvez vai fazer falta e você não vai reagir bem a uma situação, por exemplo, de estresse ou uma situação que vai te exigir que o hormônio te equilibre e você vai se desequilibrar”.
Como os hormônios atuam no corpo?
O hormônio envia uma mensagem que desencadeia uma ação específica, como estimular o crescimento, controlar o metabolismo ou regular o ciclo menstrual. Por isso, para agir cada hormônio precisa se “encaixar” em receptores específicos localizados na membrana das células do tecido-alvo, uma lógica semelhante à de uma chave e fechadura.
O corpo humano utiliza dois tipos principais de comunicação hormonal.
- O primeiro ocorre entre glândulas: por exemplo, a hipófise libera o hormônio TSH, que estimula a tireóide a liberar seus próprios hormônios.
- O segundo tipo envolve a comunicação entre uma glândula e um órgão-alvo: o pâncreas, que libera insulina para ajudar músculos e fígado a processar a glicose presente no sangue.
Essas interações garantem a regulação de funções vitais como o sono, o humor, a reprodução e o equilíbrio energético. Ao longo da vida, os hormônios também acompanham e influenciam profundamente cada fase do desenvolvimento humano.
Segundo a endocrinologista Ney Cavalcanti, durante a infância,os hormônios atuam diretamente no crescimento e na formação neurológica. Na adolescência, são responsáveis pelas mudanças físicas e emocionais da puberdade. Para os adultos, os hormônios sexuais têm papel central na fertilidade.
Já na menopausa e andropausa, suas alterações provocam sintomas como ondas de calor, queda da libido, alterações de humor e perda de massa óssea, evidenciando como o equilíbrio hormonal é essencial para a saúde física e emocional em todas as etapas da vida.
Entendendo os hormônios femininos: ciclo menstrual e impacto no cotidiano
Como vimos, a influência hormonal faz parte do funcionamento do corpo humano. No entanto, o corpo feminino ainda lida com o ciclo menstrual e suas influências. É importante entender o funcionamento deste ciclo, para compreender que a mulher passa naturalmente por “pequenas transformações” todos os meses.
O ciclo menstrual é um processo complexo e fundamental para a saúde reprodutiva feminina, que dura em média 28 dias e é dividido em três fases principais: folicular, ovulatória e lútea. Segundo estudos, cada fase apresenta variações nos níveis hormonais, que influenciam não só a fertilidade, mas também o bem-estar físico e emocional das mulheres.
Na fase folicular, que começa com o primeiro dia da menstruação, os níveis de estrogênio e progesterona estão baixos. Durante esse período, o hormônio folículo-estimulante (FSH) aumenta para estimular o crescimento dos folículos ovarianos, cada um contendo um óvulo. Esses folículos também produzem estrogênio, que cresce gradativamente ao longo da fase, ajudando na preparação do útero para uma possível gravidez. Essa fase dura cerca de 13 a 14 dias e pode influenciar o humor e os níveis de energia, uma vez que o estrogênio tem efeito estimulante no sistema nervoso central.
A fase ovulatória é caracterizada por um aumento rápido e significativo do hormônio luteinizante (LH) e do FSH, desencadeando a liberação do óvulo maduro dos ovários em direção às tubas uterinas. Nesse momento, a concentração de estrogênio diminui rapidamente, enquanto a progesterona começa a subir. Essa fase é curta, durando entre 16 a 32 horas. Um período de até 48 horas antes que ocorra a ovulação representa o período de maior fertilidade.
Além das mudanças fisiológicas, muitas mulheres percebem alterações no humor, com maior libido e sensibilidade corporal, causadas pelos picos hormonais que afetam o sistema nervoso e outras funções corporais.
Finalmente, na fase lútea, o folículo rompido transforma-se em corpo lúteo, que produz progesterona em níveis elevados, junto com estrogênio, para manter o endométrio espesso e adequado para a implantação do embrião. Essa fase dura aproximadamente 14 dias.
Caso a fertilização não ocorra, o corpo lúteo se degenera, os níveis hormonais caem, e o endométrio é eliminado, iniciando um novo ciclo menstrual. A progesterona nesta fase pode causar sintomas como retenção de líquidos, sensibilidade mamária, mudanças no apetite e variações de humor, o que explica o chamado “tensão pré-menstrual” que afeta muitas mulheres.
Essa compreensão é importante para que mulheres e profissionais da saúde possam ajustar as tentativas para ter filhos, além de suas rotinas diárias de exercícios, trabalho e cuidados pessoais de acordo com as fases do ciclo menstrual, promovendo melhor qualidade de vida e bem-estar.
O que é infertilidade feminina?
Então, como identificar Segundo a Biblioteca Virtual de Saúde, a infertilidade é definida como a dificuldade de um casal conseguir engravidar após um ano de relações sexuais regulares sem o uso de métodos contraceptivos. Vale destacar que para casais que a idade da mulher seja superior a 35 anos ou que apresentem algum fator de risco já identificado para infertilidade (por exemplo: tratamento de câncer, doenças autoimunes, endometriose, entre outros fatores de risco), indica-se uma avaliação e investigação do casal a partir de 6 meses de tentativa de gestação sem sucesso.
No caso das mulheres, as causas podem ser divididas em quatro grupos principais.
- Causas ovarianas e ovulatórias: incluem distúrbios como a síndrome dos ovários policísticos, ausência crônica de ovulação, insuficiência ovariana prematura (ou menopausa precoce), disfunções hormonais como excesso de prolactina ou hipotireoidismo, além do impacto da idade especialmente a partir dos 37 anos.
- Causas tubárias e do canal endocervical: incluem obstruções nas trompas, geralmente associadas à endometriose ou infecções pélvicas, e alterações anatômicas ou obstruções no canal cervical.
- Endometriose: doença na qual as células do endométrio (que recobrem a cavidade uterina) estão presentes fora da cavidade uterina. Esta doença está associada a alterações que dificultam o ocorrência da gestação natural, sendo atualmente uma das principais causas de infertilidade
Outros fatores estão relacionados à dificuldade de fertilização ou à falha na implantação do embrião. No caso da mulher, a fertilização pode ser prejudicada por falhas no óvulo, nos espermatozoides ou em suas estruturas genéticas. No caso de pacientes que realizam quimioterapia ou radioterapia, por exemplo, pela exposição a fatores de risco como radiações e substâncias tóxicas.
Quanto à implantação, o embrião precisa aderir ao endométrio, o revestimento interno do útero, que é preparado pelos hormônios femininos ao longo do ciclo menstrual. Se houver desequilíbrios hormonais, o endométrio pode se tornar inadequado para receber o embrião, comprometendo o sucesso da gestação.
Quais são os principais hormônios femininos que impactam a fertilidade?
Além dos hormônios já citados, ainda há outros que influenciam na fertilidade e na gestação.
Por exemplo, o AMH ajuda a estimar a reserva ovariana, ou seja, a quantidade de óvulos disponíveis nos ovários. Níveis baixos de AMH podem indicar baixa reserva, algo que naturalmente acontece com o avanço da idade, mas que também pode estar relacionado a condições como insuficiência ovariana prematura.
O estradiol, um tipo de estrogênio, contribui para o espessamento do endométrio, preparando o útero para receber o embrião. Ele também auxilia na manutenção da saúde dos ovários e influencia o muco cervical, facilitando a passagem dos espermatozoides.
Já a progesterona, produzida após a ovulação, é a responsável por levar às modificações no endométrio para que este se torne receptivo ao embrião, garantindo um ambiente propício à implantação do embrião. Se os níveis de progesterona forem insuficientes, o útero pode não sustentar a gravidez nos primeiros dias, mesmo após a fecundação.
A prolactina, mais conhecida por seu papel na amamentação, também está envolvida na fertilidade. Quando em níveis elevados fora do período gestacional, pode inibir a ovulação. Essa condição é chamada de hiperprolactinemia e pode ser causada por tumores benignos na hipófise, uso de medicamentos ou disfunções da tireoide.
Infertilidade feminina e os principais distúrbios hormonais
Algumas condições clínicas refletem claramente como o desequilíbrio hormonal pode afetar a fertilidade feminina.
Síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio hormonal comum que afeta mulheres em idade reprodutiva. Ela se caracteriza por um desequilíbrio na produção de hormônios sexuais, especialmente o aumento de androgênios (hormônios masculinos), e pode estar associada à presença de múltiplos folículos nos ovários, nem sempre representando cistos verdadeiros.
A SOP pode causar sintomas variados, como ciclos menstruais irregulares, acne, excesso de pelos, dificuldade para engravidar e resistência à insulina. Em alguns casos, está relacionada ao ganho de peso e aumento do risco de infertilidade, especialmente quando a ovulação ocorre de forma irregular ou está ausente.
Quando se trata da tireoide, os hormônios T3 e T4, produzidos por essa glândula, regulam o metabolismo corporal, mas também têm um papel essencial no sistema reprodutivo. Tanto o hipotireoidismo, que se caracteriza pela produção insuficiente de hormônios, quanto o hipertireoidismo que gera a produção excessiva, podem causar alterações menstruais, anovulação (ausência de ovulação) e aumento do risco de aborto espontâneo.
Além desses, a hiperprolactinemia, além de interromper a ovulação, pode causar alterações no humor e na libido.
Algumas causas comuns são: aterações no sono, estresse excessivo, má alimentação e obesidade são fatores que afetam diretamente o equilíbrio hormonal. Dormir mal compromete a produção de hormônios como o do crescimento e o cortisol, enquanto o estresse elevado pode levar ao ganho de peso e à pressão alta. Já dietas inadequadas e o excesso de gordura corporal prejudicam a regulação hormonal, favorecendo quadros como resistência à insulina e queda nos níveis de progesterona.
Para avaliar seu caso, seu estilo de vida e estudar as melhores formas de realizar tratamentos de reprodução assistida, procure médicos de confiança. Agende sua consulta na Huntignton.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, Ney. Os hormônios e as nossas fases da vida. Folha PE, 14 abr. 2025. Disponível em: https://www.folhape.com.br/vida-saudavel/os-hormonios-e-as-nossas-fases-da-vida/126714. Acesso em: 17 jul. 2025.
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KAMI, Aline Tiemi; VIDIGAL, Camila Borecki; MACEDO, Christiane de Souza Guerino. Impacto dos hormônios femininos no desempenho funcional: estudo sobre ciclo menstrual. Fisioterapia em Pesquisa, v. 28, e2780, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fp/a/VZtNZSQghp7YYP8ZjDbNSKg/. Acesso em: 17 jul. 2025.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Biblioteca Virtual em Saúde. Desequilíbrio hormonal e infertilidade feminina: entenda os sinais. 2024. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/?p=4207. Acesso em: 17 jul. 2025.
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