Adenomiose e endometriose: entenda as diferenças entre elas
Compreender as diferenças entre adenomiose e endometriose é um passo fundamental na jornada de cuidado com a saúde e a fertilidade. Embora compartilhem sintomas, são condições distintas que exigem tratamentos específicos.
Ambas as doenças estão relacionadas ao endométrio, o tecido que reveste a parede interna do útero e que descama durante a menstruação. No entanto, a principal diferença entre elas está na localização onde esse tecido endometrial se desenvolve de forma anormal. Entender isso é o primeiro passo para planejar a estratégia de tratamento mais compatível com seus objetivos.
A adenomiose caracteriza-se pela presença de tecido endometrial dentro da parede muscular do útero, e a endometriose é definida pela presença desse tecido em estruturas que estão fora da cavidade uterina como ovário, trompas, ligamentos pélvicos, intestino e bexiga, por exemplo. Um sintoma muito comum a ambas é dor pélvica crônica que, muitas vezes, pode ter um impacto bastante negativo na qualidade de vida.
O que é endometriose?
A endometriose ocorre quando um tecido semelhante ao endométrio cresce fora da cavidade uterina. Esse tecido ectópico (fora do local original) pode se implantar em diversas áreas da pelve, como ovários, trompas, ligamentos, intestinos e bexiga.
Assim como o endométrio normal, esse tecido responde aos estímulos hormonais do ciclo menstrual, o que pode causar um processo inflamatório crônico, dor e formação de aderências.
Quer saber mais sobre a condição? Veja os pontos-chave acerca da endometriose no bate-papo a seguir:
O que é adenomiose?
Na adenomiose, o tecido endometrial cresce para dentro da parede muscular do próprio útero, chamada de miométrio. Assim, a infiltração faz com que a parede uterina se torne mais espessa e aumente de volume.
Essa condição é, por vezes, chamada de “endometriose do útero”, mas é importante tratá-la como uma doença distinta para um manejo adequado.
Qual é a principal diferença entre adenomiose e endometriose?
A distinção fundamental entre as duas condições é a localização do tecido endometrial. Para simplificar, podemos resumir da seguinte forma:
- Endometriose: o tecido cresce fora do útero, em outros órgãos da pelve ou, mais raramente, em outras partes do corpo.
- Adenomiose: o tecido cresce dentro da parede muscular do útero (miométrio).
Essa diferença na localização é o que guia a investigação diagnóstica e a definição do melhor plano de tratamento para cada mulher, considerando seus sintomas e seu desejo de engravidar.
Além disso, é interessante destacar que a endometriose costuma ser frequentemente diagnosticada em mulheres mais jovens e que ainda não tiveram filhos. Já a adenomiose tende a ser mais comum em mulheres com idade mais avançada e que já vivenciaram gestações.
Quais são os sintomas mais comuns?
Os sintomas de ambas as condições podem ser muito parecidos, o que por vezes dificulta a diferenciação inicial sem exames específicos. Também é importante lembrar que algumas mulheres podem ser assintomáticas.
No entanto, os sinais mais frequentes incluem:
- Cólicas menstruais intensas e incapacitantes;
- Sangramento menstrual aumentado;
- Dor pélvica crônica, mesmo fora do período menstrual;
- Dor durante ou após as relações sexuais;
- Inchaço abdominal ou sensação de pressão na pelve;
- Dificuldade para engravidar (infertilidade).
Adenomiose e endometriose podem coexistir?
Sim, é relativamente comum que uma mulher apresente tanto adenomiose quanto endometriose ao mesmo tempo. Estudos mostram que a coexistência das duas condições pode ocorrer em uma parcela significativa das pacientes.
Quando isso acontece, os sintomas podem ser mais intensos, e a abordagem terapêutica precisa ser ainda mais personalizada e cuidadosa, especialmente quando há o desejo de gestação.
Como essas condições afetam a fertilidade?
Tanto a adenomiose quanto a endometriose podem criar desafios para a fertilidade, mas por mecanismos diferentes.
Impacto da endometriose na fertilidade
A endometriose pode comprometer a fertilidade por criar um ambiente inflamatório na pelve.
Essa inflamação pélvica crônica pode tanto afetar a qualidade dos óvulos e todo o mecanismo de fertilização devido à liberação de citocinas inflamatórias quanto contribuir para formação de aderências (cicatrizes) pélvicas que distorcem a anatomia original. Sendo assim, toda a cadeia de fertilidade natural pode ser prejudicada.
“A endometriose pode influenciar na fertilidade de várias formas: há o impacto anatômico causado pelas aderências pélvicas, o molecular, que afeta a qualidade dos óvulos e o processo de fertilização natural, e o impacto na reserva ovariana, principalmente quando há endometriose no ovário”, explica a Dra. Ana Luiza Tavares, especialista em Reprodução Assistida.
Impacto da adenomiose na fertilidade
A adenomiose afeta diretamente o útero, o local onde o embrião precisa se implantar e se desenvolver. A condição pode alterar a receptividade do endométrio, dificultando a implantação embrionária.
Além disso, também pode estar associada a um maior risco de abortos.
Como é feito o diagnóstico preciso?
O diagnóstico correto é crucial e começa com uma conversa detalhada com um médico especialista que avalia a história clínica completa e possíveis sintomas.
Enfim, para confirmar a suspeita, exames de imagem são fundamentais, como a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética da pelve. Esses exames, quando realizados por profissionais experientes, permitem fazer um mapeamento das lesões o que é crucial para desenhar a melhor estratégia de tratamento.
Mesmo com um ultrassom que inicialmente não mostre alterações, aproximadamente 1 em cada 8 mulheres com sintomas de endometriose ou adenomiose pode desenvolver lesões visíveis ao longo do tempo. Por isso, a avaliação contínua e especializada é fundamental para um acompanhamento adequado.
Quais são as opções de tratamento para quem deseja engravidar?
O tratamento deve ser sempre individualizado, levando em conta a intensidade dos sintomas, a idade da mulher e, principalmente, seu desejo de gestar.
Quando a fertilidade é o objetivo principal, os tratamentos de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro (FIV), em geral, representam o caminho mais eficaz.
A FIV permite superar muitas das barreiras impostas pela endometriose. Em resumo, o procedimento possibilita a fertilização do óvulo em laboratório e a transferência do embrião diretamente para o útero, aumentando as chances de uma gravidez bem-sucedida.
Porém, em alguns casos, um tratamento clínico ou cirúrgico prévio pode ser recomendado.
Tratamento cirúrgico
É importante destacar que, embora a cirurgia possa remover lesões de endometriose, ela não se mostra eficaz para tratar a adenomiose. Nesses casos, o tratamento hormonal é frequentemente mais indicado para suprimir ambas as condições.
De acordo com a Dra. Ana Luiza Tavares, “a escolha entre cirurgia e fertilização in vitro (FIV) depende de múltiplos fatores”.
“Se houver dor intensa ou lesões graves, especialmente no intestino e bexiga, a cirurgia pode ser necessária. Já os casos sem dor significativa e sobretudo se a gravidez for prioridade, a FIV costuma ser a opção mais eficiente e assertiva. Outros fatores como idade e tempo de tentativas de gestação natural, devem entrar na discussão para ajudarem a definir qual o melhor caminho para cada caso.” explica a especialista.
“Para as pacientes que já possuem indicação cirúrgica clara, é importante oferecer o congelamento de óvulos antes da cirurgia como opção de preservação da fertilidade”, continua.
Sabemos que este caminho pode parecer complexo e gerar muitas inseguranças. No entanto, com o diagnóstico correto e o apoio de uma equipe especializada, é possível traçar um plano de cuidado que acolha suas necessidades e aproxime você do sonho de construir uma família. O primeiro passo é buscar informação e ajuda qualificada.
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REFERÊNCIAS
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