O plano B para as mulheres com baixa reserva ovariana

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    Todos os dias atendo a pacientes que querem engravidar, mas que já não têm óvulos em quantidade e qualidade suficiente, o que chamamos de baixa reserva ovariana. É muito triste ver a decepção em seus rostos quando após dias ou até meses de injeções hormonais e dedicação ao tratamento, por diversas tentativas, chegamos à conclusão que o caminho não é esse e que teremos que partir para o plano B.

    Quando falo em plano B, lembro-me muito bem de uma querida paciente que veio de Brasília para fazer seu tratamento aqui na clínica. Um casal muito simpático e agradável. Eles já haviam feito nove tentativas de fertilização in vitro em diversos Estados e não tiveram sucesso. Neste meio tempo, ela também tinha tido dois abortos espontâneos. Quando iniciaram os tratamentos, ela tinha por volta de 38 anos e agora já estava com 43 anos.

    Fizemos todos os exames necessários para investigar o porquê da gestação não acontecer e, com a dosagem do hormônio anti-mulleriano, o diagnóstico de baixa reserva ovariana foi feito, como era de se esperar para uma mulher nesta idade. Expliquei que, apesar de não ser impossível dela engravidar, as chances de gravidez eram muito baixas, mesmo com a fertilização in vitro, devido à baixa qualidade e quantidade dos óvulos. Sendo assim, para que aumentássemos as chances de gravidez, sugeri o plano B: a ovodoação.

    A paciente, muito abalada, começou a me fazer mil perguntas a respeito de como seria adotar um óvulo, dos amparos legais, da escolha da doadora…, e o esposo sempre quieto.

    Quando acabei de falar, o esposo disse que a ovodoação estava fora de cogitação. Disse que a amava muito, que entendia os limites do tratamento e dessa forma considerava que era hora de parar tudo, refletir e, quem sabe, adotar uma criança.

    Penso que para o projeto de ter um filho, um casal deve estar muito unido e em sintonia e, neste momento, pude vivenciar uma total divergência entre eles.

    É completamente compreensível que surjam visões diferentes a respeito da ovodoação. Acredito que seja natural querer “perpetuar nossos genes” quando pensamos em ter um filho e, por isso, o desejo de engravidar com os próprios óvulos ou de querer ter uma criança que seja “a cara da minha esposa”. Mas na medida em que estes óvulos já não são mais capazes de resultar em uma gestação, o desejo de ser mãe fala mais alto do que a genética.

    A possibilidade de gestar, de sentir o bebê mexer, de acompanhar seu desenvolvimento e de vivenciar seu nascimento são dádivas únicas proporcionadas pela ovodoação, e muito importantes para a maioria das mulheres. E é justamente este ponto de vista que procuro enfatizar para o casal, principalmente para o homem, neste caso.

    Aconselhei o casal que conversassem com mais calma a respeito do assunto para que chegassem a um ponto em comum e me coloquei à disposição, caso pudesse ajudar com alguma dúvida. Como o habitual, demorou um tempo para que eles retornassem, mas cerca de sete meses depois eles iniciaram o tratamento e estão hoje muito felizes com a família linda que formaram.

    A mensagem que gostaria de deixar é para os casais que já estão com o corpo e alma desgastados pelas inúmeras tentativas de tratamento sem sucesso e que receberam a indicação de ovodoação ou espermadoação. Abram seus corações e sua mente para o “plano B”, procurem informação a respeito do assunto e reflitam com calma, pois apesar de inicialmente esta não parecer ser a opção mais desejada, pode, sim, tornar o melhor caminho para que o sonho de ter um filho seja uma realidade.

     

     

     

     Dra. Claudia Gomes Padilla, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington.

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