Quais são os tratamentos para endometriose?
Os tratamentos para endometriose são planejados de forma individualizada, visando aliviar os sintomas e, quando for o caso, viabilizar a gravidez.
No entanto, sabemos que receber o diagnóstico pode trazer muitas dúvidas e inseguranças, especialmente quando o sonho de ter filhos faz parte dos seus planos. Porém, existem diversos caminhos para cuidar da sua saúde e bem-estar.
De acordo com a Dra. Livia Munhoz, especialista em laparoscopia e histeroscopia, “o tratamento da endometriose é desafiador, pois a doença varia de leve a grave e tem evolução imprevisível”.
Ela complementa que “é importante que todo paciente que chega na clínica saiba que não existe um consenso único sobre o tratamento, e que o estudo das possibilidades deve ser sempre individualizado e personalizado.”
A endometriose é uma condição crônica na qual o tecido semelhante ao endométrio cresce fora do útero, causando inflamação e dor. Estima-se que afete cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
É fundamental destacar que, embora afete milhões de mulheres em todo o mundo, a condição ainda não possui uma cura definitiva. Além disso, os tratamentos para endometriose existentes podem ter resultados variados a longo prazo e alguns efeitos colaterais significativos, o que é um ponto importante para quem considera a fertilidade em seus planos.
Como a endometriose afeta o corpo e a fertilidade?
A presença do tecido endometrial em locais como ovários, trompas e outros órgãos pélvicos gera um processo inflamatório crônico. Isso pode causar sintomas como cólicas menstruais intensas, dor durante as relações sexuais, dor pélvica contínua e alterações intestinais ou urinárias durante o período menstrual.
Em relação à fertilidade, a Dra. Livia Munhoz explica que “a endometriose representa um grande desafio. Dependendo do grau de lesão, o comprometimento das tubas uterinas e a diminuição da qualidade dos óvulos podem tornar a gravidez natural mais difícil.”
A médica ainda detalha que “a endometriose causa infertilidade de várias formas: há o impacto anatômico, o molecular, que afeta a receptividade endometrial, e o impacto na reserva ovariana, principalmente quando há cistos.”
No entanto, é fundamental lembrar que o diagnóstico de endometriose não é uma sentença de infertilidade. Muitas mulheres com a condição conseguem engravidar, seja de forma natural ou com auxílio médico.
Quais são os objetivos dos tratamentos para endometriose?
O plano dos tratamentos para endometriose são sempre personalizados, considerando a intensidade dos sintomas, a idade da paciente, a extensão da doença e, principalmente, o seu desejo de engravidar. Os objetivos principais geralmente incluem:
- Alívio da dor e outros sintomas: melhorar a qualidade de vida é a prioridade inicial;
- Controle da progressão da doença: impedir que os focos de endometriose aumentem ou se espalhem;
- Preservação ou restauração da fertilidade: criar as melhores condições para uma futura gestação.
Quais são as principais abordagens de tratamento clínico?
O tratamento clínico foca no controle dos sintomas e da doença, sendo frequentemente a primeira linha de abordagem para mulheres que não desejam engravidar no momento. As opções são baseadas principalmente em terapias hormonais e medicamentos para a dor.
Medicamentos para o controle da dor
Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são comumente indicados para aliviar as cólicas e a dor pélvica. Eles atuam reduzindo a inflamação e a produção de substâncias que causam dor, proporcionando um alívio sintomático importante para o dia a dia.
Terapias hormonais para controlar a doença
As terapias hormonais visam suprimir a menstruação e, consequentemente, impedir o estímulo e o crescimento do tecido endometrial ectópico. As principais opções incluem:
- Contraceptivos hormonais: pílulas combinadas ou apenas com progestagênio, usadas de forma contínua para suspender o ciclo menstrual;
- DIU hormonal: dispositivo intrauterino que libera progesterona localmente, reduzindo o fluxo menstrual e a dor;
- Análogos do GnRH: medicamentos que induzem um estado temporário semelhante à menopausa, bloqueando a produção hormonal dos ovários e inativando a doença.
Essas terapias hormonais também atuam como métodos contraceptivos. Portanto, não são indicadas para mulheres que estão tentando engravidar ativamente.
É importante ressaltar que as terapias hormonais, focadas em controlar a dor e a progressão da doença ao suprimir o ciclo menstrual, geralmente não são adequadas para quem busca tratar a infertilidade.
A cirurgia é uma opção de tratamento?
Sim, o tratamento cirúrgico, geralmente realizado por videolaparoscopia, é uma opção importante. Trata-se de um procedimento minimamente invasivo no qual o cirurgião consegue visualizar e remover os focos de endometriose, cistos (endometriomas) e aderências pélvicas.
A cirurgia é indicada em casos de dor intensa que não responde ao tratamento clínico, em lesões que afetam o funcionamento de órgãos como intestino e bexiga ou como uma estratégia para melhorar as chances de uma gravidez natural em casos selecionados.
No entanto, é crucial que essa decisão seja cuidadosamente avaliada, especialmente quando há endometriomas (cistos nos ovários). Embora a cirurgia possa, em alguns casos, aumentar as chances de gravidez natural, ela também corre o risco de diminuir a reserva ovariana, um fator importante para a fertilidade futura.
E para a mulher que deseja engravidar, qual é o caminho?
Para a mulher com endometriose que sonha com a maternidade, o planejamento é ainda mais crucial. O médico especialista define a abordagem após uma avaliação completa da saúde reprodutiva do casal.
O caminho pode incluir a cirurgia para melhorar o ambiente pélvico ou partir diretamente para técnicas de reprodução assistida. É importante saber que, para as mulheres com endometriose que desejam engravidar, as abordagens consideradas mais eficazes são a cirurgia e/ou as técnicas de reprodução assistida.
“A escolha entre cirurgia e a Fertilização in Vitro (FIV) depende do objetivo da paciente: se houver dor intensa ou lesões graves, especialmente no intestino e bexiga, a cirurgia pode ser necessária. Já em casos de infertilidade sem dor significativa e com a gravidez como prioridade, a FIV é a opção mais eficiente. Para pacientes com reserva ovariana baixa, presença de cistos ovarianos ou idade avançada, a preservação da fertilidade antes da cirurgia pode ser recomendada”, explica a Dra. Livia Munhoz.
A decisão entre operar ou iniciar um tratamento de fertilidade depende de fatores como a idade da mulher, sua reserva ovariana e a gravidade da doença. Contudo, a prioridade é sempre escolher a estratégia que oferece as melhores chances de sucesso com o menor desgaste.
Como a reprodução assistida pode ajudar?
A reprodução assistida, em especial a Fertilização In Vitro, é um dos tratamentos mais eficazes para a infertilidade associada à endometriose. A FIV contorna muitos dos obstáculos que a doença impõe, pois a fecundação do óvulo pelo espermatozoide ocorre em laboratório.
Dessa forma, o embrião formado é transferido diretamente para o útero, superando possíveis problemas nas trompas ou a inflamação pélvica. É um caminho de esperança que já ajudou a realizar o sonho de milhares de famílias.
Endometriose tem cura definitiva?
A endometriose é uma doença crônica, o que significa que seu tratamento foca no controle e no manejo dos sintomas a longo prazo, não em uma cura definitiva. Em resumo, o objetivo é proporcionar qualidade de vida e alcançar os objetivos da paciente, como o alívio da dor ou a gravidez.
Nesse sentido, a pesquisa científica tem avançado significativamente, com a identificação de mecanismos genéticos que são essenciais para o desenvolvimento de novos e mais eficazes tratamentos, especialmente considerando a frequente associação da condição com a infertilidade.
Após a menopausa, com a queda natural dos níveis hormonais, os sintomas tendem a desaparecer. Até lá, o acompanhamento médico contínuo é essencial para ajustar o tratamento conforme as necessidades de cada fase da vida.
Assista ao vídeo a seguir e confira um bate-papo completo sobre endometriose:
Por que o acompanhamento médico individualizado é fundamental?
Não existe uma fórmula única para os tratamentos para endometriose. Portanto, a melhor abordagem depende dos sintomas, da idade, da localização, da gravidade da doença e, acima de tudo, seus planos de vida. Um especialista em reprodução humana poderá avaliar seu caso de forma completa e acolhedora.
Na Huntington, entendemos que por trás de cada diagnóstico existe uma história e um sonho. Por isso, nossa equipe está preparada para construir com você um plano de tratamento que alinhe seu bem-estar físico e emocional com o projeto de formar sua família.
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REFERÊNCIAS
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